Escondo-me em palavras, mesmo que tudo ao meu redor pareça desmoronar. Cavo túneis estreitos e desesperadores que levam a todos os lugares e a lugar nenhum. Tento escapar da repugnante realidade que me bate à cabeça e arranca lágrimas pesadas dos olhos a cada sussurro, a cada volátil rastro de qualquer coisa que eu veja estender-se à frente. Disseram-me que faz mal esperar, mas não me rendo: finco meus pés aqui onde estou e fico em silêncio. Não grito. Não tenho força para fazer com que som algum perpasse minha garganta. Mas escrevo, porquanto assim não me vem à mente tudo aquilo que um dia confessei-lhe e, em resposta, tampouco vem o que seus lábios compuseram sobre meu ouvido. E fico assim, espero a eternidade cobrir a grama verdinha com um tapete sobre o qual eu possa deslizar, deslizar... sem que seja necessário pensar sobre qualquer coisa. Como a infância, quando sua voz não era melodia em mim, quando o compasso do seu coração não controlava o meu, quando nada - além de sorrisos, abraços, açúcares e bonecas - fazia sentido. A verdade é que não te espero, mas outras coisas: espero sentir que ainda vivo, espero a brisa da primavera, espero que minhas risadas ecoem nos extensos e vazios salões em que me deito e fecho os olhos. Talvez tudo que me rodeia seja falso... Reinvento tudo. Crio a alegria; a saudade nasce como um filho bastardo, que é beijado e afastado. Aquele canto ali deixa de ser tão escuro. Faço de conta que te tenho. Meu coração não é mais tão escuro. Abro os olhos: não respiro. Fecho. Guardo tudo o que criei lá no fundo, para que nada se perca, deixo uma corda para que você chegue até um lugar onde haja luz e sinto a sombra pousando sobre mim. O dia morre, mas era madrugada e ele não nascera de verdade: apenas para mim, naquele refúgio que ergui. Surreal como seu calor fundindo-se ao meu corpo. Falso como aquela esperança e aquela fuga, utópico como sorrir. Tão leve quanto meu corpo e doce, doce de fazer lacrimejar os olhos! O dia continuaria morto, mas eu tinha raios de sol. Não chegariam a brilhar e não eram o bastante para aquecer uma formiguinha que fosse, não, mas estavam guardados.
The Birth and Death of the Day é uma música da banda Explosions In The Sky.