Apenas um vazio desesperador: nem sinal daquele azul hipnotizante que coloria todas as coisas. Um vazio que te arrebata para um oceano cinzento de águas frias e calmas - tão perpétuo como aquilo que fere sem realmente tocar, como um corte que teima em arder sem ao menos estar aberto, como algo que bate à porta e evapora antes que alguém se aproxime. Nem sombra do sentimento que costumava sustentar teu passo, abrir teu sorriso ou arrancar-te lágrimas. Imerso ali, quem pode dizer que vive? Você não pode abrir a boca... e mesmo que pudesse, não há palavra que clame por atenção em sua mente. Até que as nuvens se movem. O nublado de tantos dias é diluído em elétricos raios de sol, que atravessam corpos e almas e te recheiam com uma doce alegria. Felicidade pura, não experimentada há sabe-se lá quanto tempo. Seu coração parece querer correr, talvez atrás dessa sensação que outrora já viu esvair-se. A excitação transborda dos olhos num brilho quase infantil. A delícia de lembranças mantém viva a incerteza, a ansiedade e o medo do minuto seguinte, enquanto o presente se estende além do que sua consciência pode calcular – como aquele gélido oceano que há pouco tentava afogar-te sem ao menos mover-se. É infinito assim cada minuto, mas agora as ondas estão ali e por mais violentas que sejam você vê apenas a vida e a intensidade que gere seus movimentos. Quanto mais altas e assustadoras, maior a vontade de se lançar sobre elas. Nada disso é real - sentimentos não podem sê-lo de fato -, mas o ilusório está mesmo por baixo de tudo o que se vê, por trás de nós; é mais forte que qualquer coisa que mãos humanas podem construir. Não é nada insano, não mais que o devaneio do que ousamos tocar. Com os olhos fechados, você pode ouvir o som das ondas que te empurram para a agitação daquilo que ainda não foi experimentado, para o delírio da página que tanto se anseia por virar. Você já não sente a solidão estrangular seus sentidos, o mundo parece girar com mais leveza... e tudo o que você faz é sorrir.
ultravioletdays
sexta-feira, 11 de março de 2011
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
The Birth and Death of the Day
Escondo-me em palavras, mesmo que tudo ao meu redor pareça desmoronar. Cavo túneis estreitos e desesperadores que levam a todos os lugares e a lugar nenhum. Tento escapar da repugnante realidade que me bate à cabeça e arranca lágrimas pesadas dos olhos a cada sussurro, a cada volátil rastro de qualquer coisa que eu veja estender-se à frente. Disseram-me que faz mal esperar, mas não me rendo: finco meus pés aqui onde estou e fico em silêncio. Não grito. Não tenho força para fazer com que som algum perpasse minha garganta. Mas escrevo, porquanto assim não me vem à mente tudo aquilo que um dia confessei-lhe e, em resposta, tampouco vem o que seus lábios compuseram sobre meu ouvido. E fico assim, espero a eternidade cobrir a grama verdinha com um tapete sobre o qual eu possa deslizar, deslizar... sem que seja necessário pensar sobre qualquer coisa. Como a infância, quando sua voz não era melodia em mim, quando o compasso do seu coração não controlava o meu, quando nada - além de sorrisos, abraços, açúcares e bonecas - fazia sentido. A verdade é que não te espero, mas outras coisas: espero sentir que ainda vivo, espero a brisa da primavera, espero que minhas risadas ecoem nos extensos e vazios salões em que me deito e fecho os olhos. Talvez tudo que me rodeia seja falso... Reinvento tudo. Crio a alegria; a saudade nasce como um filho bastardo, que é beijado e afastado. Aquele canto ali deixa de ser tão escuro. Faço de conta que te tenho. Meu coração não é mais tão escuro. Abro os olhos: não respiro. Fecho. Guardo tudo o que criei lá no fundo, para que nada se perca, deixo uma corda para que você chegue até um lugar onde haja luz e sinto a sombra pousando sobre mim. O dia morre, mas era madrugada e ele não nascera de verdade: apenas para mim, naquele refúgio que ergui. Surreal como seu calor fundindo-se ao meu corpo. Falso como aquela esperança e aquela fuga, utópico como sorrir. Tão leve quanto meu corpo e doce, doce de fazer lacrimejar os olhos! O dia continuaria morto, mas eu tinha raios de sol. Não chegariam a brilhar e não eram o bastante para aquecer uma formiguinha que fosse, não, mas estavam guardados.
The Birth and Death of the Day é uma música da banda Explosions In The Sky.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Selos
Fiquei suuuper feliz - e surpresa - com os selos que ganhei da Kênnia e do Pedro Dantas. Quando resolvi que começaria a postar em um blog, há duas semanas, tinha dúvidas até mesmo se alguém chegaria a lê-lo. Saber que há pessoas que se identificaram com o Ultraviolet Days a ponto de oferecer esse reconhecimento e esse carinho me deixa muito contente e é um estímulo para que eu continue. Do fundo do coração, muito obrigada! Aliás, vale a pena conferir os blogs dos dois: Busílis, da Kênnia, e The bottom of the grave, do Pedro. Gosto muito de ambos: os textos são fantásticos!
Então, aqui estão os selos:
Os dois primeiros são dedicados aos blogs que têm a escrita como foco (crônicas, poesias...). O terceiro é para os blogs que a pessoa mais gosta de frequentar. Os três foram presentes da Kênnia e do Pedro.
A Kênnia me presenteou ainda com o Selo de Qualidade e, portanto, devo listar dez coisas sobre mim:
- O poeta que mais gosto é Vinicius de Moraes.
- Amo línguas estrangeiras e pretendo aprender o maior número possível.
- O ballet clássico ocupa grande parte da minha vida.
- I love rock n roll!
- Gosto muito de filmes franceses, de preferências aqueles romances bem dramáticos.
- Frequentemente, choro assistindo ao jornal na TV.
- Amo viajar e quero conhecer todos os cantos do mundo.
- Gosto muito de assistir ao pôr-do-sol.
- Tenho mania de achar que as pessoas que acabei de conhecer não vão com a minha cara.
- Tenho muito medo da morte.
Esses são os blogs a que dedico os selos:
- Mais um passante..., do Laio Nicolas
- Ideias Empoeiradas, da Natália
- .... Nuvens de Algodão ...., da Tatiana Fonseca
- CONTRAPONTO, da Yasmin Lara
- Persistência, da Luiza Silveira
- Busílis, da Kênnia
- The bottom of the grave, do Pedro
- La sangre invisible, do Guilherme Rodriguez
- Cartas Mortas, da L. Carvalho
- Jhenyffer Andrade, da Jhenyffer
Não os conheço há muito tempo, até porque sou novata, mas nos últimos dias tenho passeado bastante por aqui e esses blogs me conquistaram de verdade. Todos os autores são muito habilidosos, talentosos e merecem esses selos. E não pude deixar a Kênnia e o Pedro de fora da lista, já que realmente considero o Busílis e o The bottom of the grave maravilhosos.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Von
Vazio. Profundo. Sufocante. Constante. Imenso... Pesado: assim o mundo cai sobre minha cabeça. Eu tento ignorá-lo. Mas não é uma coisa qualquer – por Deus! – é um mundo inteiro. Não obstante, uma vontade de chorar prende-me: é impossível fugir de minhas ânsias. De nada adiantaria correr, gritar, suplicar aos céus. Eu continuaria vítima de tudo que me corrói sem misericórdia, daquilo que eu criei, alimentei e que continuará - enquanto eu também o esteja – vivo (talvez também depois). Amor. Palavra insana! Desvairada! Tira-lhe o alento, a coragem. Torna-te fraco. Oferece-lhe mil delícias, mil sorrisos, tudo que sua alma possa ansiar e joga-te em um pego. Ali, há água à vontade, para saciar qualquer desejo, mas você está sozinho: mais além, tudo é deserto. Esperança. Devaneio! Não há quem possa tirar-te do tal poço tão profundo e, só então é perceptível, gélido. Por vezes, uma cabeça mostra-se lá no alto - de onde normalmente vem apenas chuva e vento – mas esvai-se em segundos, como se fosse mesmo imaginação. Nem rastro da alegria avassaladora de outros tempos. A água está congelada, sua garganta está seca. Esperança. Dislate! Mas ela grita. Grita como se restasse para ser vivido apenas mais um instante, quando na verdade uma eternidade estende-se à frente, faminta de seus desejos, seus sonhos, de qualquer raio do sentir. A esperança debate-se, protesta. Talvez, uma vontade alada leve-te de volta à superfície. O deserto pode ter mudado... Talvez flores convidem-te a caminhar sorridente por qualquer trilha, mas as lágrimas continuarão a cair. Pesarão sobre seus lábios. Algo dentro de você clamará por atenção. Tristeza, ora! De novo, você é vítima de seu corpo. Aqui e ali, tudo pode ser novo. Ainda, você é aquele amor de outrora, aquele que agora é seco. A esperança quis correr por aqueles campos floridos e não olhou para trás... Você tenta respirar o perfume leve do novo mundo que se escancara. Não consegue: a esperança corre rápido demais.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Fugaz
A caneta rolou pelo chão e meus olhos seguiram seu caminho como um homem que, perdido em seu labirinto de emoções e devaneios, persegue sua sombra. Curiosa, quis saber até onde aquele pequeno objeto teria força para chegar e se seria capaz de passar por cima de tudo o que se impunha à sua frente, tudo que bloqueava seu caminho e tentava impedi-lo de atingir o destino final... Que era, enfim, algo vago e desnecessário, criado ali mesmo quando a caneta tocou o mármore liso e gelado. O mármore sempre fora frio. A caneta, não, mas rolava. Estaria fugindo de alguma coisa? Só sei que corria. Não parecia saber a razão. Vítima do maldoso acaso, escravizada por aquele movimento sem fim, não podia riscar palavra alguma, não podia fazer aquilo que, desde que se entendia por objeto manufaturado, sabia ser seu dever. Estava desesperada, mas não havia aprendido a gritar. Não aprendera nada além de ser tomada por mãos quentes – tão diferentes daquela imensidão plana sobre a qual vagava contra sua vontade – e desenhar histórias, apelos e amores sobre qualquer pedaço de papel. Um ímpeto de esticar o braço para a caneta e socorrê-la me invadiu, mas enxotei-o e permaneci alheia ao sofrimento mudo daquele objeto, que outrora me parecera tão inútil e vulgar. A caneta não sabia implorar, mas prendia minha atenção. Manteve-me em seu mundo durante certo tempo (quanto?) e então, de súbito, estancou. Parou assim mesmo como se nunca tivesse mudado de lugar. Parou ao lado do pé da mesa e ali ficou como se isso fosse muito natural. Para mim, já não era. A caneta me encarou com certo deboche, como se dissesse que eu perdera tempo em acompanhá-la até ali e que todo o furor atormentado que nela eu vira não passava de uma lamentável tentativa de fugir de todos os sentimentos que me sufocavam ou - quem sabe? - de um desejo suplicante de sentir qualquer coisa real, mesmo que não fosse minha. Aquele minúsculo pedaço de matéria desvendara mais sobre mim do que qualquer um jamais pudera. Assim que percebi o que acontecera, levantei-me da cadeira e saí da sala. Fugi de um inequívoco “eu”. Abandonei a caneta.
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